r011 Tocantins tem crescimento de 46,5% nas exportações do primeiro trimestre e China é principal parceiro comercial
Soja e carne bovina estão entre os principais produtos exportados pelo Tocantins. Estado teve lucro de US$ 560 milhões em exportações no primeiro trimestre; veja as cidades que mais exportam. Tocantins registra crescimento nas exportações do primeiro trimestre de 2025 Arte g1/Seagro/Keven Lopes/Juliano Ribeiro/Luciano Ribeiro No primeiro trimestre de 2025 o Tocantins registrou um crescimento de 46,5% nas exportações, se comparado ao mesmo período do ano passado. Os dados são da Federação das Indústrias do Estado do Tocantins (Fieto) e apontam que o estado obteve um lucro de US$ 560,2 milhões nesse período, aproximadamente R$ 3,1 bilhões. Segundo o balanço, a China é o principal parceiro comercial do Tocantins. 📱 Participe do canal do g1 TO no WhatsApp e receba as notícias no celular. Os dados também mostram que o Tocantins é o terceiro estado da região norte que mais exportou produtos entre os meses de janeiro e março deste ano. No âmbito nacional, o estado fica em 15º posição entre os estados exportadores. Principais produtos exportados pelo Tocantins A soja é o produto mais exportado do estado e teve um crescimento de 33% em termos financeiros e 50% em volume no primeiro trimestre deste ano (veja ranking de exportações abaixo). Segundo o governo, o Tocantins deve encerrar o ano de 2025 com um recorde de produção de grãos na safra 2024/2025. Sendo que um dos grãos mais cultivados é a soja, "que lidera o volume colhido no Tocantins, com 5,4 milhões de toneladas, representando um crescimento de 1,8% em relação ao ciclo anterior". Os dados são do 7º Levantamento da Safra de Grãos 2024/25, divulgado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Plantio de soja no Tocantins Adapec/Governo do Tocantins Já a carne bovina fica em segundo lugar nas exportações, com aumento de 36% em volume de produção e 47% em termos financeiros. Segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), o aumento da produção de gado no estado foi acompanhado das exportações. Isso coloca o Tocantins na 9ª posição no ranking de maior produção de carne bovina do país, segundo o governo. Entre as cidades com maior quantidade de bovinos estão Araguaçu, Formoso do Araguaia, Araguaína, Pium e Peixe. Ranking de produtos exportados do Tocantins Soja - alcançou US$ 288 milhões; Carne bovina - alcançou US$ 122 milhões; Tortas (bagaços) e outros resíduos sólidos da extração do óleo de soja - alcançou US$ 38 milhões; Ouro em formas brutas ou semimanufaturadas, ou em pó - alcançou US$ 36 milhões. Aumento da produção foi acompanhado das exportações com recordes de carne bovina, com cerca de 102 mil toneladas em 2024. Kleiber Arantes/ Governo do Tocantins Para a técnica em pesquisa da Fieto, Gleicilene Bezerra, apesar do crescimento das exportações, o grande desafio no Tocantins é transformar os produtos in natura em industrializados. "É o que a gente frisa bastante, né? Que a soja como um produto in Natura, nosso grande desafio é transformar esses produtos em produtos industrializados, para que a gente possa agregar mais valor à nossa pauta exportadora, gerando mais empregos e mais renda ao estado", disse. A tendência é que as exportações continuem crescendo, como nos trimestres anteriores. "Esses dados a gente não identifica durante a balança comercial, mas pelo que a gente vê nos trimestres passados, a tendência é que fica esse saldo superavitário na nossa balança comercial. Que a gente fechou com o superávit de US$ 525 milhões, que representa um aumento de 51%. Então, a tendência é, de acordo com os levantamentos passados, que esse superávit ele persista aí durante o ano". LEIA TAMBÉM Algodão tem aumento de 34,2% na área plantada e soja deve alcançar 1,5 milhão de hectares cultivados no Tocantins Tocantins bate recorde na produção de gado e tem quase nove vezes mais bovinos que habitantes Parceiros comerciais No primeiro trimestre deste ano o Tocantins exportou para mais de 70 países e recebeu produtos de 28 países. Conforme os dados da Fieto, a China é disparado o principal parceiro econômico do Tocantins. Isso porque 55,07% do que o estado exporta vai para o país asiático. Entre os produtos enviados, 75% são soja e 24% carne bovina. O Paquistão fica em segundo lugar com 5,95% das exportações tocantinenses, sendo que 90% do que o país recebe é soja e 7% algodão. Em seguida ficam Canadá, Turquia e Estados Unidos. Além de enviar, o Tocantins também recebe produtos de outros país, as chamadas importações. A China tem uma participação de 43,70% nessa troca. Os principais produtos demandados são armações de óculos e artigos semelhantes, e aparelhos baseados no uso de raios X para usos médicos, cirúrgicos ou veterinários. Já 9,76% das importações são da Indonésia. O país costuma enviar óleos de coco (óleo de copra), de palmiste ou de babaçu e respectivas fracções e óleo de palma e respectivas fracções. Outros países que também importam para o Tocantins são Estados Unidos (7,82%), Canadá (7,59%) e Suécia (6,99%). Tarifaço entre EUA e China e impacto no Tocantins Em abril deste ano, Estados Unidos e China iniciaram uma guerra tarifária. As medidas começaram após o presidente dos EUA, Donald Trump, anunciar uma tabela de tarifas, de 10% a 50% para produtos inportados de 180 países, incluindo o Brasil, no dia 2 de abril. A China, que foi um dos países citados na tabela, respondeu a medida de Trump ao impor tarifas extras de 34% sobre todas as importações americanas. No dia 10 de abril, as tarifas dos EUA contra a China aumentaram para 145%. No dia seguinte, o país asiático elevou a tarifa dos produtos americanos em 125%. Na segunda-feira (12), os dois países entraram em um acordo para reduzir temporariamente as tarifas recíprocas durante 90 dias. Sendo assim, as tarifas dos EUA sobre as importações da China caem para 30% e as taxas da China sobre as importações americanas caem para 10%. As medidas passaram a valer na quarta-feira (14). Mas o que isso afeta o Brasil e consequentemente o Tocantins? Durante esse tarifaço, a venda de carne boniva do Brasil para os Estados Unidos disparou 498% em abril. Outro produto que também apresentou um crescimento nas vendas foi a soja. Ambos exportados pelo Tocantins. Trump diz que vai negociar novas tarifas com a China O economista Raimundo Casé explicou como essa 'guerra' impacta o estado e suas relações comerciais com outros países. "No caso brasileiro, e por conseguinte no estado do Tocantins, a instabilidade global afeta-nos diretamente. Embora exista potencial de ganho, notadamente no agronegócio, principalmente da China e de outros países asiáticos ou ainda do acordo Mercosul/União Europeia onde a imposição de tarifas foi mais significativa em relação ao Brasil, essa possibilidade pode beneficiar pontualmente as exportações de produtos agrícolas". O economista ainda afirma que apesar do potencial de ganhos, as tarifas podem desencadear um processo inflacionário global e uma recessão econômica. "O panorama atual é de acentuada incerteza global, com risco de recessão nas maiores economias e efeitos colaterais amargos para o restante do mundo. O Brasil e o estado do Tocantins podem até conquistar espaços nesse contexto, mas tal ganho poderá ser insuficiente para compensar os impactos negativos de choques adversos dessas proporções", explicou. Cidades exportadoras Porto Nacional é a cidade com maior participação nas exportações do Tocantins Divulgação/Prefeitura de Porto Nacional Porto Nacional é a cidade com maior participação nas exportações feitas pelo Tocantins. Segundo a Fieto, o município teve um aumento de mais de 21% nas exportações do primeiro semestre, se comparado ao ano passado. O principal produto comercializado é tortas (bagaços) e outros resíduos sólidos da extração do óleo de soja. Conforme o balanço, a participação de Porto Nacional nas exportações rendeu mais de US$ 122 milhões no primeiro trimestre deste ano. Número bem maior ao que foi registrado em 2024, quando a cidade alcançou mais de US$ 100 milhões com produtos enviados. A capital fica em segundo lugar no ranking das cidades tocantinenses que mais exportaram neste ano, segundo o balanço comercial. Os principais produtos vendidos por Palmas são a soja e o milho. Os mesmos de Santa Rosa do Tocantins, que fica na terceira posição. Já Paraíso do Tocantins se destaca pela comercialização de carne bovina. Exportação nas cidades do Tocantins Veja mais notícias da região no g1 Tocantins. Fonte: G1

linnpy Missa Conga: saiba como é a celebração feita há quase 50 anos pelo mesmo frei em MG
Missa será realizada neste domingo (18), a partir das 14h, no Santuário de Santo Antônio, em Divinópolis. Missa Conga com o Frei Leonardo; imagem de arquivo Diocese de Divinópolis/Divulgação A tradicional Missa Conga, uma mistura das festas trazidas pelos negros escravizados com a religiosidade cristã praticada na colônia, será celebrada neste domingo (18), a partir das 14h no Santuário de Santo Antônio, em Divinópolis. Veja a programação abaixo. 🔔 Receba no WhatsApp as notícias do Centro-Oeste de MG A Missa Conga chega à 48ª edição. É celebrada desde o início pelo frei Leonardo Lucas. Com 83 anos, morador de Belo Horizonte, o frei não abre mão de vir à Divinópolis para a celebração. Para o religioso a missa Conga é especial e faz parte da sua história. "Tenho um sentimento de amor, porque os nossos congadeiros me acolheram de braços abertos, tive muita alegria e felicidade de poder estar com eles. Felicidade de louvar o Senhor com eles e pedir à Nossa Senhora do Rosário, à Santa Efigênia e a São Benedito que nos protejam e abençoem", destaca. Segundo o frei Leonardo Lucas, a primeira missa Conga foi realizada em 15 de maio de 1977. Na ocasião, um grupo de amigos do frei saiu à procura dos congadeiros da cidade para convidá-los a participar de uma missa especial. "Foi através de uma amizade profunda com o professor e antropólogo José Alaor Bueno de Paiva , juntamente outras pessoas que saíram atrás dos congadeiros para que fizéssemos no Santuário a primeira Missa Conga", acrescenta. Congadeiros saem em procissão após a missa no Santuário Diocese de Divinópolis/Divulgação Com o passar dos anos, a celebração ganhou a participação de diversas guardas de reinado, também são conhecidas por congadeiros. A festa em louvor à Nossa Senhora do Rosário, São Benedito e Santa Efigênia lembra a proteção dos santos aos escravizados. Estão previstas as participações das guardas de Moçambique, Congo, Catupé, Vilão e Marinha na celebração deste domingo. Programação 13h: chegada e concentração dos congadeiros na porta do Santuário; 14h: celebração da Missa Conga, com os freis Leonardo Lucas e José Agnaldo; 15h30: procissão pela Avenida 21 de Abril, Rua São Paulo e Rua Minas Gerais; 16h: café de São Benedito, no Centro Cultural do Povo, na praça Governador Benedito Valadares. Em seguida, as guardas e os Estados da Coroa de todas as irmandades participantes voltarão em cortejo para o Largo do Rosário. Missa Conga será realizada neste domingo (18) em Divinópolis Diocese de Divinópolis/Divulgação "Vamos fazer uma oração especial principalmente por aqueles que têm mais dificuldade em viver, vamos pedir pelas mães e também pedir para que não haja nunca mais qualquer tipo de trabalho escravo na nossa terra, onde se comemora os 137 anos da Lei Áurea", encerrou o frei Leonardo. A celebração tem o apoio da Congregação das Irmandades Congadeiras de Divinópolis (CongaDiv) e da Prefeitura, por meio da Secretaria Municipal de Cultura (Semc). Frei Leonardo está à frente da Missa Conga desde a sua criação na cidade Diocese de Divinópolis/Divulgação ARQUIVO: Há 10 anos, o Bom Dia Minas registrou a Missa Conga em Divinópolis. Missa Conga marca início de comemorações do aniversário de 103 anos de Divinópolis 📲 Siga o g1 Centro-Oeste MG no Instagram, Facebook e X VÍDEOS: veja tudo sobre o Centro-Oeste de Minas Fonte: G1


webradio016 De ‘possuídos’, alienados e loucos para pacientes neurodivergentes: exposição retrata evolução do tratamento de doenças mentais
O 18 de maio é destinado ao Dia Nacional da Luta Antimanicomial, que se fortaleceu na segunda metade do século XX e segue até os dias atuais em busca de respeito e tratamento digno aos pacientes neurodivergentes. Veja como eram aparelhos de lobotomia usados em pacientes com doenças mentais A Luta Antimanicomial no Brasil ganhou força na segunda metade do século 20, impulsionada pelo processo de redemocratização após a ditadura militar. O movimento é lembrado anualmente em 18 de maio, data que marca o Dia Nacional da Luta Antimanicomial. Para abordar o tema, o g1 elaborou uma linha do tempo sobre o tratamento da loucura e destaca figuras importantes desse movimento, como Juliano Moreira e Nise da Silveira. No Rio, a Colônia Juliano Moreira, referência histórica na saúde mental e maior instituição psiquiátrica da cidade, completa 100 anos em 2025, celebrados com uma exposição que resgata sua memória (veja mais detalhes abaixo). Possessões e exorcismos Em entrevista ao g1, o psiquiatra Hugo Fagundes, superintendente de Saúde Mental, da Prefeitura do Rio, relembra os principais marcos da história da psiquiatria no país e destaca o longo período em que pacientes foram submetidos a abordagens agressivas e tratamentos inadequados. Ele explica que, ao longo da história, diferentes termos pejorativos foram usados para se referir a pessoas que pensavam de forma considerada "não normal", como "loucos", "alienados" e "desprovidos de razão". Em determinados períodos, segundo ele, chegou-se a atribuir essas condições a possessões demoníacas. De ‘possuídos’, alienados e loucos para pacientes neurodivergentes Arte g1 O especialista explica que a mudança de visão sobre os pacientes começou na Revolução Francesa, mas que até então eles eram tratados principalmente sob uma perspectiva religiosa. “Até a Revolução Francesa, entendiam a loucura como uma possessão. Na Idade Média, as cidades pegavam os loucos e botaram em um navio para descer o rio para outra cidade. Eram experiências de muita violência porque entendiam como possessão demoníaca e sempre a construção da experiência humana com a loucura era entendida como um desequilíbrio e uma desrazão", afirma. "Era uma ideia de que o indivíduo era despossuído de razão, seja porque alguma coisa incorporava nele, ou porque ele degenerava, seja porque ele desequilibrava de humor, enfim." Lobotomia e eletrochoques A Revolução Francesa acontece no século XVIII e os intelectuais passam a enxergar a loucura como uma doença mental, conforme explica Fagundes. A partir desse momento, é criada a psiquiatria e as abordagens que seriam usadas com os loucos: hospitais psiquiátricos com áreas verdes, momentos de conexão com a natureza e o próprio eu. Aparelho de lobotomia em exposição no Museu Bispo do Rosário Thaís Espírito Santo/g1 “A descrição do tratamento até então era de convencer o sujeito da falta de razão que ele tinha nos seus pensamentos, então era moral. A ideia era de um lugar muito bom, com contato com a natureza, para conseguir convencer a pessoa a sair desse lugar. As intervenções físicas vão acabar acontecendo a partir daí”, conta. Com as intervenções físicas, começa um processo de tortura dos pacientes, explica o especialista. “A gente tem propostas das mais absurdas: cadeira giratória, banhos gelados, toda sorte de violência para tentar criar soluções para resolver. Ao ponto que identificavam que pessoas delirantes que tinham uma febre muito alta, melhoravam. Então, houve um determinado momento que inocularam malária nos pacientes. Na malarioterapia, você lidava com a febre alta", afirma. "A mesma coisa com crise convulsiva, então falavam: ‘vamos induzir crises’. A eletroconvulsoterapia nada mais é do que uma corrente elétrica de baixa frequência nas têmporas para de alguma maneira induzir uma crise convulsiva. São sessões de eletrochoque, mas os pacientes melhoravam e voltavam a ter surtos depois”, continua Fagundes. Aparelhos de eletrochoques em exposição no Museu Bispo do Rosário Thaís Espírito Santo/g1 Foi nessa época que os pacientes começaram a ser submetidos a lobotomias, que eram cirurgias onde com a abertura do cérebro, cortavam-se conexões de hemisférios para reduzir os pensamentos e reações dos doentes. “Nisso, com a ideia do hospital psiquiátrico que seria quase um spa, o que se montou foram estruturas de confinamento de pessoas que eram sequestradas, era um cativeiro e muito sofrimento. A história da psiquiatria é de muita violência. Qualquer movimento de rebeldia de um sujeito era tido como um sintoma agudo do seu agravamento mental. Então para as mulheres, por exemplo, não tenho dúvida de que as experiências eram pavorosas”, destaca. Brasil e o Hospital Nacional dos Alienados A situação começa a mudar quando D. Pedro II cria o Hospital Nacional dos Alienados, onde hoje funciona o Palácio Universitário da UFRJ, na Praia Vermelha, Zona Sul do Rio. Na segunda metade do século XVIII, um psiquiatra baiano se destaca: Juliano Moreira. “E aí tem uma figura muito interessante, que é um psiquiatra baiano, negro, de origem simples, que falava seis línguas. Juliano Moreira vem para o Rio em uma articulação política e acaba assumindo o papel de responsável pela saúde mental no Distrito Federal, que por sua vez era o responsável pela política de saúde mental do país inteiro." Juliano Moreira defendia um tratamento menos intervencionista do ponto de vista físico e mais acolhedor em termos mentais. Com o aumento da demanda, o setor de internação do Hospital Nacional dos Alienados começou a ficar sobrecarregado. O governo passou a criar colônias de alienados. Primeiro, no Engenho de Dentro, seguido pela Ilha do Governador — onde posteriormente foi instalada a Base Aérea do Galeão — e, por fim, na antiga Fazenda do Barão da Taquara, hoje conhecida como Colônia Juliano Moreira, um dos últimos manicômios a serem desativados no Rio de Janeiro. No entanto, até então, o tratamento aos pacientes ainda era marcado por muita agressividade. “Na Colônia tem histórias absurdas, como de uma das companheiras de um sheik que veio para o Rio e ela teve uma crise convulsiva no Centro, desgarrada das pessoas e como ela só falava árabe, foi trazida para cá e morreu aqui." "A história de sofrimento é absolutamente incomensurável, essas pessoas perderam a juventude, os dentes, os amigos, os laços sociais, e a gente foi construindo caminhos para desmontar isso aqui”, conta Fagundes. A luta antimanicomial e o legado de Juliano Moreira “Quando se fala de luta antimanicomial, o primeiro nome que as pessoas falam é Nise da Silveira, mas ela é uma história que vem muito depois. A luta começou no final dos anos 70, com uma geração de médicos na efervescência da luta pela anistia, da luta pela redemocratização do país, para derrubar a ditadura”, afirma. O avanço da luta antimanicomial ganhou força após a chegada do psiquiatra italiano Franco Basaglia, que fica horrorizado com as condições encontradas em um manicômio de Barbacena (MG). Basaglia chega a definir o lugar como “um campo de concentração de loucos”. Doutor Juliano Moreira representado em pintura no Museu Bispo do Rosário Thaís Espírito Santo/g1 “Ele insufla um movimento, que cresce como um movimento social e não mais um movimento de profissionais da saúde. Na verdade, faz parte da pauta de garantia de lutar por democracia, por justiça social, por assim, por humanizar o cuidado e pela construção do SUS”, afirma o médico. Naquele período, o Brasil atravessava os anos finais da ditadura militar e iniciava os debates para a Constituição de 1988 — um marco decisivo para a criação do Sistema Único de Saúde (SUS). Nise da Silveira foi uma alagoana que, nessa época, estava no Rio para fazer residência em psiquiatria, mas acaba presa por ter “livros subversivos” e fama de comunista. Depois de ser solta, ela é mandada para o setor de Terapia Ocupacional do Hospital de Engenho de Dentro. Nise da Silveira Arquivo Nise da Silveira via Agência Senado “Lá ela cria o Museu de Imagens e Consciente, que é como se fosse um prontuário do paciente, muito interessante. Ela vai fazendo um registro dia a dia das produções das pessoas e vai colecionando. Você vê sequências e nisso ela descobriu artistas incríveis, como Emílio de Barris, Fernando Diniz, Adelina, são figuras que de alguma maneira encantam o mundo das artes", relata. "Ela e o Juliano Moreira não conviveram, não foram contemporâneos e não se contrapõem, mas são experiências distintas. Para os dois, a reforma psiquiátrica nasce a partir da trajetória da sensibilidade dessas pessoas”, destaca o médico. O trabalho desses dois profissionais ajudou a embasar a forma de tratamento usada hoje na rede de saúde: a lógica do paciente inserido plenamente na sociedade, e não mais isolado em manicômios como antigamente. No estado do Rio, os manicômios públicos já foram desativados, e o Conselho Nacional de Justiça determinou a extinção das unidades psiquiátricas em presídios. 'Qual a cor da minha aura?' Coleção de Artur Bispo do Rosário Thaís Espírito Santo/g1 No Museu Bispo do Rosário, que fica na Colônia Juliano Moreira, uma exposição celebra os 100 anos da instituição com mais de 400 itens, incluindo obras produzidas por pacientes. O acervo destaca a trajetória de Arthur Bispo do Rosário, ex-interno que viveu e morreu no local, quando ainda funcionava como um manicômio. A mostra relembra a história da colônia, que abrigou milhares de pessoas ao longo de um século e ocupa uma área equivalente à do bairro de Copacabana. O psiquiatra Fagundes conta que Bispo trabalhava em um hospital de Botafogo quando teve um surto psicótico e foi levado para o lugar. Na sua psicose, ele passou a acreditar que era um inventariante de Deus e que precisaria prestar conta de toda produção humana ao Criador quando morresse. A exposição mostra parte de sua coleção. Coleção de Artur Bispo do Rosário Thaís Espírito Santo/g1 “Se há uma coisa que acontece na psicose é uma certa quebra entre o significante e o significado, que é o que acontece com o Artur Bispo do Rosário. Ele faz uma coleção do que ele chamava de objetos mumificados. Ele pegava madeira e com o fio ele fazia a mumificação e bordava para o que servia.” Era assim que pedaços de madeira e argila se tornavam uma gangorra, por exemplo. “Ele se torna um inventariante de Deus e vai recolhendo coisas do lixo, fazendo embalagens, desfiando as roupas do hospital psiquiátrico e lençóis e fazendo um bordado, descrevendo as coisas. Em outros trechos, ele vai relacionando quem são as pessoas, tem uns amarelos, vermelhos, ele classifica todas em uma construção própria”, explica. “Pra entrar no recinto dele, ele sempre te fazia uma pergunta e se errasse não entrava. Ele perguntava: qual é a cor da minha aura?”. Coleção de Artur Bispo do Rosário Thaís Espírito Santo/g1 A exposição tem como objetivo resgatar a memória dos períodos mais sombrios do tratamento da saúde mental, ao mesmo tempo em que valoriza a potência criativa dos pacientes. A curadoria levou cerca de um ano para reunir o acervo histórico “A gente tem personagens históricos como a Stella do Patrocínio, o Antônio Bragança e outros artistas que tiveram muitas das suas carreiras invisibilizadas por terem sido pessoas que passaram pelo processo de institucionalização. É uma exposição muito importante para pensar, né? O que que foi esse espaço, a Colônia Juliano Moreira, que foi um dos maiores manicômios do Brasil ali no século XX?”, questiona a curadora Carolina Rodrigues. O desafio hoje Para o psiquiatra Fagundes, hoje o desafio é fazer com que a sociedade entenda que deve respeito a toda forma e experiência de vida. “A gente precisa sustentar o cuidado super individualizado, singularizado para cada pessoa. O inverso do manicômio é a vida na sociedade. E o que garante que a gente possa de fato ser antimanicomial não é segurar uma faixa na rua, mas é a relação de respeito e, sobretudo, a percepção de que o outro que você tá cuidando, por pior que ele esteja, tá largado na rua, doidão, com uso de drogas, super vulnerabilizado, ele é uma pessoa igual a você”, afirma o médico. “A promoção de autonomia nas pessoas produz o sujeito de direitos e o sujeito de direitos tem mais consciência da sua cidadania, do seu papel no mundo. E a saúde mental tem uma trajetória muito revolucionária nesse sentido. A luta antimanicomial e a reforma psiquiátrica foram projetos de sociedade bem sucedidos, foram eles que ajudaram o SUS a avançar na promoção de equidade, por exemplo”, completa o diretor do museu, Alexandre Trino. No entanto, para o médico, a equidade total ainda não foi alcançada. “Acho que seremos mais cidadãos quando um desembargador entrar em uma fila atrás de um servente de pedreiro e respeitar a fila porque o servente chegou primeiro. Quando a gente chegar nisso, vamos viver uma experiência em que o manicômio é uma referência totalmente do passado, mas enquanto a gente tiver a percepção de que uns valem mais do que outros, não”, conclui Fagundes. Semana da Luta Antimanicomial O Centro de Cultura e Convivência Pedra Branca (CECCO) e Museu Bispo do Rosário promovem de 19 a 23 de maio, das 9h às 16h30, a II Semana de Luta Antimanicomial do CECCO Pedra Branca. Oficinas, rodas de conversa, apresentação de trabalhos acadêmicos e a Feira de Economia Solidária fazem parte da programação da semana. Dia 19/05 (aberto ao público): roda de conversa sobre "Desinstitucionalização e os desafios na Redes de Atenção Psicossocial", apresentação artística e oficina de ritmo. Dia 20/05 (exclusivo para profissionais de saúde): roda de conversa sobre saúde do trabalhador, Feira de Economia Solidária, oficina de corpo para os trabalhadores da Saúde, campanha de vacinação e apresentação artística. Dia 21/05 (aberto ao público): roda de conversa sobre Participação Social no SUS, apresentação de trabalho acadêmico e apresentações artísticas. Dia 22/05 (atividades para crianças e adolescentes): manhã de jogos e oficina brincante para crianças, jovens e adolescentes. À tarde, roda de conversa sobre saúde mental na infância e adolescência e apresentação artística. Dia 23/05 (aberto ao público): roda de conversa sobre Saúde e Arte na Luta Antimanicomial e encontro de Blocos Carnavalescos. O Museu Bispo do Rosário fica na Estrada Rodrigues Caldas, 3.400, na Taquara, Jacarepaguá. Fonte: G1


olavo.campos Estudo sobre inflamação causada por dieta gordurosa abre caminho para novas medicações para obesidade
Pesquisadores da Unicamp descobriram que células imunológicas do corpo sobem ao cérebro para defesa contra inflamação causada pelo consumo exagerado de alimentos gordurosos. Inflamação causada por dieta gordurosa ativa células de todo sistema imunológico, diz Unicamp Freepik Um estudo da Universidade Estadual de Campinas (SP) descobriu que várias células imunológicas do corpo sobem ao cérebro para “reforçar” a defesa contra a inflamação causada pelo consumo exagerado de alimentos gordurosos. Os resultados foram publicados na revista internacional de biomedicina eLife, em novembro de 2024. ⚔️ A inflamação e a desregulação no hipotálamo — uma estrutura cerebral responsável pela regulação do sono, apetite, prazer sexual e outras funções sensoriais e hormonais — estão relacionadas ao desenvolvimento doenças metabólicas, como a obesidade. Em entrevista ao g1, a pesquisadora do Departamento de Medicina Translacional da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) e 1ª autora do artigo, Natália Mendes, explicou quais foram as conclusões do estudo, e como podem contribuir para o desenvolvimento de medicação para a obesidade. 📲 Participe do canal do g1 Campinas no WhatsApp "No contexto que tem uma inflamação, essas células [micróglias] ficam meio agitadas 'para tentar resolver o problema'. Só que o que acontece? Elas não dão conta de resolver isso sozinhas. Então, elas mandam sinais para as células que estão em outras regiões no corpo todo, para elas irem até onde elas estão, lá no cérebro", explica Natália 🧬 Os pesquisadores também fizeram um mapeamento genético de todas as células de defesa periféricas, que viajam pela corrente sanguínea até o sistema hipotálamo. Eles perceberam que todas são constituídas pelo CXCR3, um receptor relacionado a resposta imunitária. Inflamação causada por dieta gordurosa ativa células de todo sistema imunológico, diz Unicamp Getty Images via BBC Ganho de peso e prejuízo no gasto energético Para chegar a esses resultados, o estudo fez testes com roedores. Os animais foram alimentados com comidas gordurosas, como fast foods e ultraprocessados, e os pesquisadores impediram que as células de defesa do corpo (com CXCR3) agissem no hipotálamo de alguns deles. ➡️ Na experimentação, os animais que não receberam a ajuda das células imunológicas do corpo apresentaram maior ganho de peso e de gordura e prejuízo no gasto energético. Natália explica que a inflamação no hipotálamo ocorre poucos dias após a ingestão do alimento nocivo, e que essa é uma região do cérebro de controle homeostático, "responsável por tudo que a gente precisa ter para viver normalmente". "Quando essa gordura chega no hipotálamo, existe todo esse processo inflamatório. Uma das consequências é justamente você ter uma desregulação desses processos que são homeostáticos. Então, o que a gente vê é que o animal acaba comendo de mais, ganha mais peso, e o gasto energético dele fica prejudicado também" A pesquisadora ressalta também que as consequências da desregulação do hipotálamo não são imediatas. "Geralmente ela é pregressa. Acontece antes do desenvolvimento da obesidade, do ganho de peso", diz. Inflamação causada por dieta gordurosa ativa células de todo sistema imunológico, diz Unicamp Brun-nO para Pixabay Diferença entre gêneros Enquanto os cientistas faziam a análise genética das células imunes do corpo, eles perceberam que as células que subiam para o cérebro dos animais machos tinham um "perfil completamente distinto" das identificadas nas fêmeas. Os cientistas também perceberam que o modo como cada gênero reagiu ao bloqueio das células foi diferente. "Nas fêmeas, ele foi muito mais significativo. As alterações que a gente viu foram mais intensas nas fêmeas do que nos machos, por essa questão hormonal e por ter uma estrutura anatômica e funcional diferente", explica. "A gente achou interessante isso porque a gente sabe que a obesidade também acaba afetando de maneira distinta homens e mulheres. Dependendo da região do corpo, as mulheres são mais afetadas e acabam acumulando mais gordura na região do glúteo e outras partes do corpo, e o homem acumula mais gordura na região abdominal", esclarece Natália. Inflamação causada por dieta gordurosa ativa células de todo sistema imunológico, diz Unicamp Freepik Novas medicações A mobilização das células imunológicas de todo corpo pode não ser o suficiente para impedir o surgimento da obesidade. Natália explica que a obesidade é uma doença multifatorial, que não tem só uma causa biológica. "Tem outros aspectos que estão envolvidos, mas quando a gente pensa especificamente na parte biológica — ou seja, o que está acontecendo no corpo — o que a gente vê é que essas células do sistema imune também parecem ter uma importância na regulação desse controle da fome e do gasto energético", explica. 💊 A profissional explica que a descoberta também abre luz para o desenvolvimento de novas medicações para a prevenção e tratamento da obesidade e de outras doenças metabólicas. "Se a gente for pensar que essas células que vão até o cérebro são boas e tem um papel anti-inflamatório, se a gente conseguir algum meio de estimular que elas viajem mais rápido ou em maior quantidade para o cérebro, pode ser que elas ajudem. Não vou dizer no emagrecimento, mas ajudem a reduzir o impacto que a dieta tem no peso e na saúde", finaliza Mais que IMC: especialistas propõem reformulação de diagnóstico da obesidade VÍDEOS: saiba tudo sobre Campinas e Região Veja mais notícias da região no g1 Campinas Fonte: G1

r011 Carro importado de 1949, atração no litoral de SP, já levou noivas a igreja e participou de filmagem internacional
Studebaker do modelo Champion é de um casal de santistas. Eles já receberam ofertas de R$ 300 mil e apartamento na Ilha Porchat pelo veículo. Carro norte-americano de 75 anos chama atenção pelas ruas de Santos (SP) Um carro norte-americano, com 75 anos de existência, chama atenção pelas ruas de Santos, no litoral de São Paulo. Com painel e lataria originais, o Studebaker Champion (1949) é motivo de orgulho para uma família da cidade, que já recebeu propostas de R$ 300 mil e até um apartamento em troca do veículo (assista acima). ✅Clique aqui para seguir o canal do g1 Santos no WhatsApp. Quando o dono de oficina mecânica José Carlos Vicente Soares, de 74 anos, e a professora aposentada Marli Mesquita Soares, de 70, saem de carro, é certo que serão elogiados. Ele pertencia ao falecido Américo, também mecânico e pai da santista, e ficou de herança para o “genro mais chegado”. “Nós passeávamos muito nesse carro. E ele tinha uma paixão… o amor da vida dele era esse carro. Ele podia ter vários carros se ele quisesse, mas nunca quis ter outro. A vida inteira foi esse só”, contou Marli à reportagem. Entre outros momentos importantes, o carro vinho levou diversas noivas a igrejas, incluindo a filha do casal e as de Américo. Já teve várias cores, incluindo o original azul claro, mas Marli e José Carlos mantiveram a tonalidade avermelhada que o pai dela escolheu. Studebaker de 1949 é atração nas ruas de Santos, no litoral de SP Restauração completa José Carlos se formou em contabilidade, mas há 30 anos tem uma oficina mecânica na cidade do litoral paulista. Muito ciumento, ele comprou o carro da sogra por R$ 13 mil em 2000, pouco após o falecimento de Américo. Restaurou os bancos e a pintura, trocou as rodas e colocou direção hidráulica. Hoje, o veículo tem até uma mini televisão. “Ele [carro] ficou parado dois anos, porque o Zé Carlos mandou restaurar todinho. Deixou na ‘lata’, foi todo personalizado”, disse Marli. O painel do carro tem o nome de Américo, pai de Marli, que após comprá-lo instalou um teto solar. Desde que adquiriu o veículo, José Carlos fez as mudanças para proporcionar viagens mais seguras e confortáveis à própria família. O próximo desejo é a instalação de um ar-condicionado elétrico. Marli quando criança e depois, já adulta, ao lado do Studebaker Marli Mesquita Soares/Arquivo pessoal Atração em todo lugar O Studebaker não passa despercebido. Há praticamente 24 anos, o casal ouve comentários e elogios quando sai de casa com dele. E não é apenas em Santos que essa relíquia de quatro rodas funciona. “Fomos para Campos do Jordão, Poços de Caldas, Serra Negra, Piracicaba…[...] Quando quebra, quebra aqui em Santos. Eu dei sorte”, brincou José. Não faltam momentos marcantes com o carro antigo. Há uma década, Marli e o marido estavam na Bolsa do Café, no Centro, onde ocorria uma filmagem de comercial internacional. De acordo com ela, quando os responsáveis notaram o Studebaker, os convenceram a incluir o veículo no projeto. “Quiseram que eu ficasse dentro do carro como se eu fosse atriz. Um rapaz vinha do lado de fora, conversar comigo, como se fosse meu namorado, para mostrar o carro. Diz que ia sair essa reportagem [filmagem] fora do Brasil”, recordou Marli. Américo e a esposa, Glória (mãe de Marli), ao lado do Studebaker Marli Mesquita Soares/Arquivo pessoal 'Não tem preço' Como mecânico, José reconhece que todo carro pode envelhecer. Não foram poucas as ofertas para adquirir a raridade. Certa vez, propuseram R$ 300 mil, mas Marli garantiu ao g1: ‘não tem preço’. “Já ofereceram apartamento no Ilha Porchat, mas não vendo por nada. A intenção não é vender. O pessoal fala: ‘quer trocar, quer trocar?’”, recordou. Para que o carro siga funcionando bem, José Carlos faz manutenção todos os anos e investe em peças boas. As borrachas que substituiu, por exemplo, vieram do Tennessee (Estados Unidos) e custaram 4 mil dólares. "Todo fim de semana dou uma enceradinha, uma limpada", afirmou. VÍDEOS: g1 em 1 Minuto Santos Fonte: G1


linnpy Comando Vermelho ordenou trégua de crimes para reunião do G20 no Rio, revela Polícia Federal
Veja mais acessando o Link Fonte original: https://oglobo.globo.com/rio/noticia/2025/05/18/comando-vermelho-ordenou-tregua-de-crimes-para-reuniao-do-g20-no-rio-revela-policia-federal.ghtml


linnpy Como devem ser os processos de demolição e remoção de pessoas em áreas que serão reurbanizadas
Impasse entre União e a gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos) sobre a Favela do Moinho jogou luz sobre o tema em São Paulo. O g1 conversou com especialistas para entender como deveriam acontecer desocupações urbanas. Governo começa a demolir casas na Favela do Moinho O processo remoção de pessoas em áreas que serão reurbanizadas envolve a desocupação do território e, muitas vezes, a demolição das moradias existentes para dar lugar a novas estruturas planejadas — como habitações regulares, parques ou vias — que tragam algum benefício para a sociedade. O tema ganhou destaque nesta semana após o impasse entre a gestão de Tarcísio de Freitas (Republicanos) e o governo federal sobre a área onde está localizada a Favela do Moinho, no Centro de São Paulo. O governo paulista tenta obter a posse do terreno, que pertence à União, para remover a favela que considera um obstáculo no combate ao crime organizado e na revitalização da região central. A gestão pretende construir um parque e transferir sua sede. ✅ Clique aqui para se inscrever no canal do g1 SP no WhatsApp. Na quinta-feira (15), a União anunciou que fechou um acordo com o estado de São Paulo sobre o processo de desocupação do local, garantido moradia sem endividamento às pessoas, ou seja, apartamentos subsidiados tanto pelo governo federal quanto pelo estado de São Paulo às famílias com renda de até R$ 4,7 mil. A notícia foi comemorada por parte dos moradores da comunidade. Especialistas ouvidos pelo g1 alertam que a remoção planejada é fundamental para garantir que o processo não viole direitos humanos e sociais. O que você encontrar nesta matéria? Diálogo com moradores Garantias à população Demolições seguras Minimizar riscos Especulação imobiliária Diálogo com moradores Para o urbanista Celso Aparecido Sampaio, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo do Mackenzie, os processos de remoções têm que ser muito bem articulados. Segundo ele, é necessário diálogo com vários setores, tanto da sociedade quanto da administração pública, além dos moradores que residem no local e no entorno da área que será reurbanizada. “É muito importante que a gente desenvolva instrumentos para ouvir esses moradores, suas vontades e o que efetivamente querem. Querem permanecer ali? Querem ir para as imediações? Qual é o tipo de moradia que atende suas necessidades? Só assim vamos oferecer reais oportunidades de remoção." O professor ressalta que deve haver articulação com outros programas municipais, estaduais e federais. “Essas famílias têm carência de moradia, mas também de outros tipos de necessidades”. “Um trabalho social forte e efetivo nesses territórios possibilita mapear as necessidades das famílias para além da moradia. Aí conseguimos, de fato, investir em outros programas sociais. Só assim você tem a chance de fazer uma alavancagem da condição social dessas famílias. A concessão da moradia é a garantia de um primeiro direito.” Favela do Moinho, localizada na região do Bom Retiro, Centro de São Paulo. Reprodução/TV Globo Garantias à população A arquiteta e urbanista Rayssa Cortez, especialista em planejamento e gestão do território, acredita que a desocupação definitiva das pessoas depende de uma série de garantias, como não serem removidas à força. “Quando o processo é levado da maneira correta, as pessoas sabem para onde vão e todas as famílias de uma comunidade já terão aceitado sair do local que será entregue”, afirma. “É a partir daí, quando todos estiverem em suas novas casas, que dá para demolir sem ninguém circulando no local.” Demolições x descaracterização Nesta semana, moradores da Favela do Moinho protestaram justamente após a Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo (CDHU) realizar demolições na área. Os manifestantes colocaram fogo em objetos na linha do trem, que cruza a comunidade. O governo federal alega que autorizou somente a descaracterização dos imóveis, ou seja, alterar as casas removendo elementos originais como fachadas, janelas, telhados, pisos. No caso de uma demolição, o imóvel é derrubado completamente, destruindo sua estrutura física. Moradores da Favela do Moinho, em Campos Elí¬sios, Centro de São Paulo, realizam protesto contra a desapropriação de suas casas, na manhã desta terça-feira, 22 de abril de 2025, e têm o governador Tarcísio de Freitas (Republicano) como alvo. ROBERTO SUNGI/ATO PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO Segundo Rayssa, que tem experiência em assistência técnica para habitação de interesse social, a descaracterização de casas como na Favela do Moinho, que possuí construções de alvenaria, mas também barracos construídos com madeira, pode causar riscos para a população. “[Na Favela do Moinho] a descaracterização está sendo feita em etapas, ou seja, as casas estão perdendo gradualmente suas características, como portas e janelas. Acredito que pode causar riscos para as pessoas porque as camadas de tijolo podem ficar soltas e, se bate um vento, se bate uma bola de crianças brincando, é mais fácil de cair”, conta. Por isso a importância de não haver pessoas no local no momento de uma desocupação. “É uma situação agravante em um contexto habitacional.” Minimizando riscos Quando as etapas de uma desocupação não são respeitadas, as demolições agravam os problemas sociais de uma área em um processo de reurbanização, segundo a doutoranda em planejamento urbano e regional Débora Ungaretti. “Fazem a demolição e deixam os escombros no local. O resultado, que também faz parte de uma estratégia, é um cenário de guerra na favela. Os escombros geram riscos para as crianças que brincam nas ruas, empoça água, gerando problemas de infestação de pernilongo ou bichos peçonhentos”, avalia. “Tudo isso aumenta dos problemas sociais que existem na favela, deixando inviável para as famílias continuarem naquele cenário. Então o Estado vai criando uma cena de fato consumada, de que a favela vai ser demolida, de que as pessoas têm que sair quanto antes.” Especulação imobiliária Em 2024, o preço de venda de imóveis residenciais na cidade de São Paulo apresentou uma alta de 6,56%, o maior número desde 2014, quando o acumulado anual foi de 7,33%. Os dados são do Índice FipeZAP. No mesmo ano, a Prefeitura de São Paulo divulgou Censo de Cortiços da Região Central de São Paulo e identificou um total de 1.080 cortiços na cidade. Funcionários da CDHU iniciam remoção de famílias da Favela do Moinho, no Centro de SP, na manhã desta terça-feira (22). TABA BENEDICTO/ESTADÃO CONTEÚDO O número, no entanto, pode ser maior, já que o perímetro da pesquisa abrange integralmente apenas os distritos Sé, República e Brás, e parcialmente os distritos Santa Cecília, Consolação, Bela Vista, Liberdade, Cambuci, Pari e Bom Retiro. O professor Celso Aparecido Sampaio defende o aumento de investimento em habitação para a população de baixa renda na cidade. "A gente tem uma legislação em São Paulo que favorece a entrada do setor imobiliário, que tem crescido e ampliado o 'retrofit' no centro da cidade", referindo-se a um esforço coordenado para revitalizar edifícios antigos, especialmente no centro da capital, enquanto os adaptam para usos comerciais ou até mesmo residências. No entanto, esses imóveis nem sempre são acessíveis. "A gente precisa de um investimento grande, um investimento forte, um investimento maciço para que talvez a gente dê uma oportunidade para pequenas construtoras se aliarem a movimentos sociais e talvez possa transformar essas grandes ocupações em moradias dignas." Segundo o professor, um dos caminhos é ouvir os movimentos sociais que têm propostas para cortiços, favelas e ocupações. “A Prefeitura de São Paulo tem levantamentos recentes. Agora precisam atuar também essas ocupações, onde moram três, cinco mil famílias, e transformá-las em moradias com qualidade. Espero que a gente aumente o investimento em habitação, para a área central e para o restante da cidade.” Fonte: G1